Assim o que disse o tio Ben(*), do Homem-Aranha (que a minha infância os tenha em paz!) – “Um grande poder comporta uma grande responsabilidade”, um senhor que nem era economista, mas que, com esta reflexão, revelou sensatez para ser um primeiro-ministro. É pouco provável que ele estivesse a pensar em crises financeiras quando teve esta epifania (devia estar a pensar nos maus, porque estava falecendo de um tiro, para quem não recorda). Mas os chavões podem ser úteis em determinados contextos. Para o caso, remeto-o para um tema transversal às várias dimensões da vida, seja na dimensão pessoal ou profissional, e refiro-me, como o título induz, à responsabilidade inerente a uma posição de poder.
Posições de poder, ou responsabilidade, como cada um se queira posicionar, encontram-se espalhadas pelos diferentes grupos sociais, sejam eles de pequena ou grande escala: família e amigos, sociedade e entidades governamentais.
O poder é equivalente ao dever paternal de um adulto que cuida dos pequenos, cuidado esse que, embora se estabeleça com regras para com a criança, respeita a sua autonomia – liberdade. A perversão deste conceito observa-se, por exemplo, em regimes totalitaristas, que recaem na filosofia “pater familiae” romana, na qual o papel de representante da lei estava claramente confundido com a posição de lei-na-sua-pessoa.
Nos mercados de capitais, é dito popular que ninguém é obrigado a comprar sem intenção, logo, quem fornece um produto (um bem ou um serviço), está de consciência ilibada porque, à partida, quem comprou era livre. O que é verdade, mas só em parte. Porque a liberdade não implica sempre consciência dos atos, daí um pai não deixar uma criança atravessar a estrada sozinha, mesmo depois de ela já ter “ouvido mil vezes, e já saber o que pode acontecer”.
Também um líder político eleito é democraticamente responsável por cuidar de um povo que precisa de gestão. No festival político actual, é banal um líder político afirmar, do seu pedestal, coisas equivalentes a: “o governo está mandatado pelo povo, portanto as suas decisões devem ser respeitadas”. De facto… É lógico, mas não é humano, porque roça o dominar. E dominar não é ter poder, é ser cobarde pintado de tirano. Há alguns anos atrás, num graffiti, que apupava de uma parede, entretanto apagado, mas não esquecido, lia-se: “quanto mais ignorantes, melhor para os governantes”. Há factos contra os quais não há argumentos!
É uma palavra curiosa – poder -, porque embora possa ser interpretada como a ‘capacidade de dispor da liberdade de terceiros’, acredito que o seu significado só ganha valor quando é pensada como ‘a responsabilidade de quem tem conhecimento em proteger quem não o tem’.
Quando escrevia este artigo, tive a feliz coincidência de me deparar com a entrevista feita pelo canal de televisão Al-jazeera a José Mujica, presidente da República do Uruguai. Não sendo acompanhador do seu trabalho, e não tendo grandes referências prévias, o título da entrevista captou-me a atenção por ser quase um mito na actualidade: “Jose Mujica ‘I earn more than I need’ ”. Ouvindo as suas, surpreedo-me por um homem assumir o cargo em que está como uma responsabilidade para com os direitos do seu povo, e não como detentor de poder para afirmar ideais políticos. Um presidente deve ser um humanista, o ideologismo que fique para os tiranos…