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Perdão não é submissão

Os pilares das relações afetivas incluem o respeito, a compreensão e o perdão, uma espécie de Santa Trindade do senso comum. A maioria de nós cresce a aprendê-los e tentamos transmiti-los aos mais novos, para que os vivam com a família, amigos e futuros cônjuges. São valores fundamentais, mas é imprescindível compreender o que representam na prática!

Quando uma relação decorre pacificamente, não há grande complexidade no entendimento destas atitudes: devemos aceitar a outra pessoa nas suas diferenças, não devemos querer impor a nossa opinião e, como errar é humano, também faz parte perdoar a outra pessoa por algumas atitudes que não tiveram um resultado positivo.

Quando alguém se encontra numa posição em que é repetidamente vítima de uma atitude que considera destrutiva, é necessário adequar o significado destes princípios. Os ajustes podem parecer óbvios, mas na prática verifica-se que é demasiado frequente algumas pessoas ficarem coladas à obrigação moral de serem condescendentes, deixando de se proteger porque sentem que defender-se é equivalente a agredir a outra pessoa, esquecendo até que do outro lado não há preocupação!

Nunca é demais reforçar: respeito pelo outro não implica abdicar do amor-próprio, caso contrário é masoquismo!

Mas o que mantém as pessoas a ter uma atitude passiva nas relações? Regra geral, por um conflito interior entre valores que se adquiriram na infância e a fantasia da dependência.

Imaginemos um adulto que cresceu numa família onde o divórcio é inexistente e sempre lhe disseram que não se devia fazer os outros sofrer. O receio de desiludir a família aliado ao medo de que o parceiro também sofra com a mudança sobrepõem-se ao amor próprio, culminando com a incapacidade de a pessoa se defender na relação conjugal.

A forma como as relações se desenrolam evolui consoante a natureza da relação e com a idade. Quando somos crianças, estamos numa posição de dependência da família, que é quem nos gere toda a vida. Durante o crescimento, ganha-se autonomia e passa-se a gerir a própria vida. No entanto, nas relações amorosas pode dar-se o caso de a pessoa viver a relação com o modelo de relação que tinha em criança, como se o parceiro fosse insubstituível e não se tivesse autonomia para refazer a vida sem ele.

O que recebe numa relação implica expressar os seus desejos, só assim será equilibrada. Se sente que não tem espaço para ser ouvida, talvez não seja uma relação saudável para si.

Não tenha medo de mudar, nem duvide da sua capacidade para o fazer! Se a aconselham a ser “paciente” porque sofrer é normal, lembre-se: a maioria dos conselhos são dados com base nos medos de quem os dá e não com consideração das necessidades de quem precisa deles!