Sejamos francos: há muito tempo que o Natal não é uma época que celebra a família.
Lembro-me de ser adolescente e ouvir os idosos partilhar estórias do tempo deles, em que no Natal a família se reunia para conviver. As tarefas da ceia eram repartidas, as crianças iam com os homens buscar um pinheiro ou uma criptoméria e quando chegavam a casa as mães ensinavam-nos a fazer bolachas. As prendas eram brinquedos feitos à mão nas oficinas de garagem ou roupa que fazia falta e que era costurada em casa. Memórias do antigamente que fizeram parte da realidade de muitas famílias.
Como o dinheiro escasseava, a vida obrigava a valorizar aquilo que se tinha: as relações. Atualmente o dinheiro não abunda, mas em muitos aspetos a vida tem mais comodismos. A sociedade tem uma estrutura diferente e a maioria das crianças cresce sujeita a condições que lhes induz a tendência a dar prioridade ao que não têm: as coisas.
Naturalmente abrir embrulhos é um momento importante e entusiasmante para os mais pequenos, e graúdos também, mas há ajustes que podem ser feitos para tornar este momento construtivo e menos materialista.
Ensine os mais pequenos a fazer listas de prendas com um número limitado de opções e explique-lhes que talvez só algumas sejam possíveis de conseguir porque as prendas que existem têm que ser distribuídas por todas as crianças. Quando for à “caça” das prendas dê prioridade às que estimulam o convívio entre familiares e amigos: jogos de tabuleiro, kits de projetos, guias para atividades na natureza, etc.
Aproveite também para lhes explicar que há outras crianças que não têm possibilidade de receber prendas e peça-lhes que escolham uma das prendas da lista para doar, contribuindo para que os outros tenham um Natal melhor. Caso surja a questão da razão por haver crianças que não recebem prendas, pode sempre dizer que há famílias que às vezes têm pouco dinheiro e que não podem enviar uma carta ao Pai Natal pedindo-lhe prendas porque esse dinheiro é necessário para outras coisas. Desta forma, introduz uma realidade diferente de uma forma que não deixe a criança perturbada. Se o seu filho estiver na creche informe-se se há algum colega para quem seja apropriada a oferta e delegue-lhe a responsabilidade da entrega.
Se tem filhos adolescentes aproveite para os levar a uma instituição de solidariedade social deixar algo que faça falta e procure também se há alguma atividade de caridade em que possa envolver a família. Existem algumas instituições que permitem o acolhimento de crianças no dia de Natal ou que aceitam voluntários para atividades para preparar as festas de Natal. Dê aos seus filhos a oportunidade de perceberem, na prática, o valor acrescentado que podem trazer ao mundo em que vivem.
Torne a escolha da prenda um momento de família. Antes de disparar para o centro comercial a procurar desesperadamente por coisas, pense se não haverá nada que possa desenvolver em casa com a participação de todos. Não só criará prendas únicas, como terá tempo de convívio, estimulará as crianças a pensar no que poderão gostar os destinatários das prendas e ainda poderá transmitir os seus conhecimentos de trabalhos manuais aos filhos. Se estiver sem ideias estimule um brainstorming na sala ou, em último caso, lembre-se que o Google explica (quase) tudo!
Aproveite este Natal para uma experiência diferente: dê de si e ensine as crianças a dar delas próprias. É uma aprendizagem que poderão celebrar todo o ano!