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Mood Magazine: Já passou por aquele momento que tem tudo o que sempre sonhou, mas afinal essas coisas não o fazem feliz?

Tenho-me apercebido que o estilo da comunicação em programas de televisão ou em publicidade tem explorado cada vez mais o conceito de que o sucesso requer perfeição: 10 maneiras de ser o melhor nisto, 15 técnicas para nunca deprimir, o concurso que vai revelar a melhor cantora ou o melhor chefe de cozinha. Esta promoção assemelha-se-me sempre à venda de amuletos mágicos que vão resolver os problemas sem que se tenha que estar sujeito a frustrações.

É uma espécie de demanda para adultos, equivalente aos super-heróis da infância, que precisam de determinados objetos que lhes deem superpoderes, caso contrário são apenas pessoas comuns e frágeis por alguma razão. Também é estranho constatar que se criem índices e padrões científicos que analisem aspetos que se referem a gostos pessoais, que nada têm a ver com padrões de desempenho funcional, tal como constatei recentemente num artigo que dizia que o melhor sítio do mundo para se passar férias era “X”, porque tinha determinadas características que eram as verdadeiras fontes de felicidade.

Esta questão tornou-se particularmente visível para mim enquanto assistia a um concurso de chefes de cozinha. Num dos episódios finais, o concorrente que tinha vencido a prova do dia anterior e que era considerado pelos colegas como o mais consistente ao longo dos desafios foi eliminado por um concorrente que na prova anterior quase tinha sido eliminado. Os júris (os melhores chefes do mundo!) deram o feedback de que ele era mesmo muito bom e que lamentavam a sua eliminação, mas que o melhor não podia falhar, e como naquela prova ele tinha falhado não merecia continuar.

 

Só cometemos erros quando não aprendemos com os insucessos
Quando o historial de sucessos é desprezado num evento pontual está-se a sobrevalorizar o erro, negando a integração de dois elementos naturais da vida: às vezes erra-se, outras vezes acerta-se; acertar sempre é impossível quando se faz uma avaliação completa que é necessariamente a longo prazo. Esta é uma conclusão lógica óbvia, faz parte do senso comum, mas aceitar essa evidência como uma possibilidade para a própria vida é um desafio que frequentemente fica bloqueado emocionalmente. Há alguns anos, uma pessoa dizia-me que aceitava a personalidade do marido, mas achava que ele podia ser mais feliz se ele aceitasse as dicas dela e irritava-a que ele não o fizesse.

 

A mente teoriza, mas o coração não concretiza

Por outro lado, é transmitida a mensagem de que há um conjunto muito específico de características que devem ser atingidas, que me parece o ponto mais perverso de todos. É desconcertante a quantidade de pessoas que ensinam que o que se deve aprender/ser é como os próprios, ao invés de ensinar cada um a desenvolver as próprias características.

No mesmo sentido, destrói as diferentes competências da pessoa, que podem ser viáveis de forma complementar. Por exemplo, se um concorrente era muito bom nos pratos principais, o outro seria muito bom nas entradas e sobremesas. Em paralelo ao estilo de comunicação do programa a que me refiro, parece-me preocupante este ser o estilo predominante de concursos a ser exibidos e o também o facto de serem os mais consumidos.
Os meios de informação são canais de educação da sociedade, e se há um estilo de educação pouco saudável que é o mais difundido que é o mais correspondido é sinal que é uma mensagem que está a ser acompanhada e reforçada entre as pessoas que a consomem.

Os ideais de sucesso são transmitidos como uma espécie fórmula, estanque e idealizada, que por essas mesmas características induz a ideia errada de que a felicidade é uma coisa concreta, em que alguém se torna ou onde se chega. Há duas condicionantes neste processo. Em primeiro lugar, estabelece-se a angústia permanente de nunca se ter chegado a um ponto que é necessário para viver. Segundo, quando aparentemente se chegou a esse ponto, rapidamente há o confronto com a realidade, o que provoca um choque emocional difícil de tolerar.

A constante insatisfação que a suposta-felicidade instala nos indivíduos tende a despoletar a dificuldade em viver, em aproveitar o que se tem e o que se é: quanto mais se tenta ser feliz, mais (in)feliz se é…